INTRODUÇÃO

O consumo excessivo de bebidas alcoólicas constitui-se em relevante problema de Saúde Pública, pois apresenta como consequências diretas ou relacionadas o surgimento de doenças cardiovasculares, neoplasias, transtornos mentais e comportamentais, aposentadoria precoce, acidentes de trabalho e de transporte, agressões, homicídios, suicídios e elevada frequência de ocupação de leitos hospitalares.
Por ser socialmente aceito e, até mesmo, estimulado, o consumo de bebida alcoólica configura-se como um hábito bastante difundido na maioria dos países, seja pela obtenção de efeitos prazerosos, promoção do convívio social ou sensação de liberdade. Entretanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a participação desse tipo de substância como causa específica de morte entre vítimas de acidentes de transporte terrestre (ATT).
Os ATT são responsáveis pela morte de mais de um milhão de pessoas/ano em todo o mundo, além de produzirem grande número de feridos e portadores de sequelas permanentes. Aproximadamente 62% das vítimas fatais por ATT notificadas são procedentes de dez países, que, em ordem de magnitude, são: Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Brasil, Irã, México, Indonésia, África do Sul e Egito, os quais são responsáveis por 56% da população mundial. No Brasil, em 2007, foram registrados 37.407 óbitos por ATT, sendo que 82% ocorreram em homens, e os jovens de 20 a 29 anos representaram a maioria das vítimas. Em todo o mundo, estima-se que entre um quarto e metade das vítimas fatais de ATT relaciona-se com o uso abusivo do álcool.
Além dos ATT, o álcool pode ser considerado um elemento potencializador e catalizador da violência, pois está intimamente relacionado a homicídios ligados à violência interpessoal, como brigas de bar e casas noturnas, eventos desportivos, entre vizinhos ou casais. Os números revelam que muitos crimes ocorrem em decorrência do uso abusivo do álcool (aliado à outros fatores como porte de arma de fogo, por exemplo) e a Lei Seca influencia de forma direta nesses casos. 
No Brasil, existe uma legislação abrangente que é o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que foi implantado pela Lei No 9.503, de 23 de setembro de 1997. Recentemente a Lei No. 11.705, de 19 de junho de 2008, conhecida popularmente como "Lei Seca", alterou o CTB por meio da introdução de dispositivos legais que inibem o consumo de bebida alcoólica pelo condutor de veículo automotor. A partir de então, a identificação de qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor a penalidades como multa de R$957,00 (novecentos e cinquenta e sete reais), suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses e apreensão do veículo. Esta nova regulamentação inclui e pode classificar a infração como crime com pena de reclusão, quando a concentração de álcool for superior a 0,6 g/l.

OBJETIVOS

O trabalho visa analisar comparativamente os números de acidentes de trânsito (com vítimas fatais e não fatais) e outros aspectos relacionados a Lei Seca (Lei No. 11.705, de 19 de junho de 2008), antes e após a sua vigência no Brasil e na cidade do Rio de Janeiro.

MORTALIDADE POR ATT NOS ESTADOS BRASILEIROS

TABELA 1 - A comparação dos dados de mortalidade por ATT nos dois periodos permitiu identificar uma redução significativa de -7,4% na taxa padronizada de mortalidade por ATT (TPM-ATT), que passou de 18,7/100 mil habitantes para 17,3/100 mil habitantes. Essa redução foi observada de maneira heterogênea em 74% (20/27) dos Estados, variando de -1% em Roraima a -32,5% no Rio de Janeiro. Observaram-se reduções consideradas estatisticamente significativas do risco de morte por ATT para Brasil -7,4% e para os seguintes Estados: Rio de Janeiro (-32,5%), Espirito Santo (-18,4%), Distrito Federal (-17,4%), Alagoas (-17%), Santa Catarina (-12,5%), Bahia (-8,6%), Paraná (-7,7%), São Paulo (-7%). De maneira inversa, alguns Estados apresentaram incremento no risco de morte por ATT após a implantação da Lei Seca, com variação proporcional de 0,1% a 10%, este último observado em Rondônia.


MORTALIDADE POR ATT NAS CAPITAIS BRASILEIRAS

TABELA 2 - Nas populações residentes nas capitais dos Estados, observou-se para o conjunto das capitais redução significativa no risco de morte por ATT da ordem de -11,8%, com TPM-ATT variando de 14,1/100 mil habitantes no período pré-Lei Seca para 12,4/100 mil habitantes após a implantação da Lei Seca. A redução foi observada em 67% (18/27) das capitais brasileiras, sendo maior na cidade do Rio de Janeiro (-58,1%) e menor em João Pessoa (-0,3%). Apresentaram redução significativa no risco de morte por ATT após a implantação da Lei Seca as seguintes cidades: Rio de Janeiro (-58,1%), Salvador (-37%), Recife (-33%), Distrito Federal (-17,4%) e São Paulo (-11,3%). Em nove capitais, verificou-se aumento no indicador de mortalidade por ATT, variando de 0,9% em Macapá a 67,2% em Vitória, entretanto estes aumentos não foram estatisticamente significativos 


NÚMERO DE VÍTIMAS FATAIS NO TRÂNSITO - RIO DE JANEIRO

De acordo com os dados obtidos do Instituto de Segurança Publica (ISP) foi possível analisar as taxas de acidentes com vítimas no Rio de Janeiro.

O número de vítimas fatais diminuiu em 2008 e 2009, porém ficou estável em 2010.
O número total de vítimas (mortos e feridos) cresceu a cada ano deste mesmo período.
O ISP publica mensalmente “indicadores de criminalidade”, entre os quais encontram-se os números de vítimas de crimes de trânsito, com a seguinte definição:

·         Homicídios culposos de trânsito
·         Lesões corporais culposas de trânsito

Assumindo que o número de "homicídios culposos de trânsito" corresponde ao número de vítimas fatais, é possível observar no quadro e gráfico abaixo que o número de vítimas fatais diminuiu de 7% em 2008, ano de entrada em vigor da "Lei Seca", diminuiu também de 14% em 2009, porém, permaneceu estável em 2010.


QUADRO 1: VÍTIMAS FATAIS
GRÁFICO 1: MORTES NO TRÂNSITO

NÚMERO DE VÍTIMAS (FATAIS E NÃO FATAIS) NO TRÂNSITO - RIO DE JANEIRO

Assumindo que o número de "lesões corporais culposas de trânsito" corresponde ao número de vítimas não fatais, o número total de vítimas (mortos e feridos), evoluiu conforme indicado no quadro e gráfico a seguir.

QUADRO 2: VÍTIMAS TOTAIS

GRÁFICO 2: VÍTIMAS TOTAIS NO TRÂNSITO
Analisando os valores da tabela, nota-se que o número das vítimas totais aumentou de 2007 para 2010. Porém isso não quer dizer que a Lei Seca é ineficaz, pois ela reduziu o número de acidentes graves com morte, conforme visto no quadro e gráfico 1, do item anterior.
A justificativa para esse aumento se deve ao aumento da frota de veículos na cidade, que se relaciona com o aumento no número de acidentes tanto graves como menores, elevando o número total de vítimas.

CRIMINALIDADE NO RIO DE JANEIRO FOI REDUZIDA APÓS SOMENTE 1 ANO DE LEI SECA

Em apenas um ano de vigência, de acordo com relatórios do Instituto de Segurança Pública (ISP) do Rio de Janeiro, os homicídios dolosos no estado do Rio de Janeiro caíram quase pela metade  após a instituição da Lei Seca . Eles mostraram uma redução de 46,9% no número de homicídios dolosos – aqueles em que há a intenção de matar.
Os dados abrangem delitos comunicados em Delegacias Legais de todo o estado ocorridos entre 19 de junho e 22 de julho dos anos de 2007 e 2008. No ano de 2007 foram registrados 482 homicídios dolosos no período. No ano segunite foram 256 , conforme observado no gráfico abaixo.
Gráfico comparativo sobre delitos escolhidos no estado do Rio de Janeiro de 19/6 a 22/7 de cada ano - valores absolutos

PESQUISA DE CAMPO

Foi realizada uma pesquisa de campo com 100 alunos da UFRJ, de diferentes cursos, para saber de suas opiniões a respeito da Lei Seca e suas posturas frente à ela (na cidade do Rio de Janeiro). Dessa população investigada, 30 alunos eram mulheres e 70 homens, entre 18 e 26 anos, com carteira de habilitação e carro (ou seja, motoristas em atividade).
A primeira questão foi saber se eles eram a favor ou contra a lei seca. Os dados obtidos foram colocados em uma tabela e confeccionado um gráfico, conforme a  seguir:




Os resultados confirmam que , tanto homens quanto mulheres, em sua maioria, são a favor da lei seca, apesar de 30 pessoas das 100, não aprovarem (um número estatisticamente significante, pelo menos para essa amostra populacional).

A segunda questão da pesquisa foi saber qual a postura do entrevistado em relação à Lei Seca, quando ele sai para casas noturnas, bares e outros lugares de divertimento, onde há presença de bebidas alcoólicas. São quatro opções de resposta e uma tabela e um gráfico foram confeccionados a partir dos resultados obtidos:




Os resultados demonstram que a maior parte das pessoas que bebem, não dirigem após o consumo de bebida alcoólica, e outros não bebem ou não dirigem quando saem. Vale ressaltar que 14% da população dessa amostra bebe e dirige, o que representa um risco para suas vidas e da sociedade e um desrespeito à lei, e é um número expressivo para esse amostra.

LINK DA LEI SECA

  No link a seguir é possível visualizar a Lei No. 11.705, de 19 de junho de 2008 (Lei Seca) na página da Casa Civil da República Brasileira:

CONCLUSÃO

Esse trabalho permitiu concluir que a Lei Seca tem se mostrado eficiente em diversas regiões do Brasil porque tem reduzido o número de acidentes, principalmente os fatais.
Entretanto é possível perceber que essa mudança tem sido maior principalmente na Região Sudeste do país, tendo índices pequenos nas régios Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Tal fato pode ser explicado pela maior fiscalização nas principais cidades brasileiras e a fragilidade encontrada nas regiões mais afastadas. Isso sugere que a política de fiscalização deve ser mais rígida, pois não está conseguindo atingir o objetivo de redução de ATT, além de mais medidas educativas e campanhas governamentais.
Portanto, torna-se um desafio para gestores públicos e sociedade civil a indução de mudanças nos hábitos e comportamentos, de modo a torná-los seguros e saudáveis e implementar políticas públicas promotoras de saúde e paz no trânsito, associadas à promoção de ambientes seguros e saudáveis dentro da perspectiva da mobilidade humana e da qualidade de vida.
No caso específico do Rio de Janeiro, os índices mostram melhora tanto nos acidentes fatais como na redução da criminalidade, pois o alcoolismo está relacionado a muitos casos de violência.
Ainda na cidade carioca, a pesquisa de campo realizada com os 100 alunos da UFRJ, entre 18 e 26 anos, demonstrou um aspecto positivo no momento em que a maior parte desses jovens aderem e obedecem à Lei Seca. Todavia, analisando os que desaprovam e desobedecem, ainda temos taxas relativamente altas, mesmo considerando que essa população é representativa e não significa que essa porcentagem corresponde a totalidade dos cariocas.
Assim fica nossa campanha para que a Lei Seca continue em vigor e que as pessoas obedeçam sempre a ela, pois não só suas vidas, mas as de muitas outras pessoas podem estar em risco, porque bebida e direção não combinam. E vale o velho ditado:

SE BEBER, NÃO DIRIJA!

REFERÊNCIAS

OS SITES UTILIZADOS PARA O TRABALHO FORAM ACESSADOS NOS DIAS 8 E 9 DE JULHO:


<http://www.vias-Seguras.com/os_acidentes/estatisticas/estatisticas_estaduais/estatisticas_de_acidentes_no_estado_do_rio_de_janeiro/vitimas_de_acidentes_de_transito_no_estado_do_rio_de_janeiro_desde_2007>

<http://www.portaldotransito.com.br/tag/lei-seca>

<http://www.comunidadesegura.org/pt-br/node/40025>

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705.htm>